segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Pai...


Um dia, quando eu fazia  terapia, a Magdalena disse que minha válvula de escape, por assim dizer, era escrever. Eu sempre consigo escrever o que não consigo falar. Sempre fui assim. Talvez por isso tenha escolhido a área de Língua Portuguesa e Redação. No momento preciso escrever... preciso muito escrever e ser lida.

As lembranças que tenho de meu pai são muitas. Muitas boas, poucas tristes e algumas ruins. Meu pai sempre foi um pai dedicado, nunca deixou faltar nada em casa, sempre nos tratou com muito carinho e amor.

Trabalhava duro, como qualquer um de nós. Todas as férias ele nos levava pra algum lugar: íamos à Praia Grande, acampávamos, visitávamos parentes distantes em cidades do interior de São Paulo, ríamos, chorávamos, nos divertíamos, às vezes passávamos nervoso. Mas qual vida não é assim?

Não sei se ele foi o marido perfeito para minha mãe. Ele era muito mulherengo e chegamos a ter notícias de certas senhoras que partilharam a vida com ele também. Mas se minha mãe aceitava, o problema era dela, certo?


Tenho lembranças de ele chegar cansado do trabalho e me levar pra ver a lua no quintal - sempre adorei olhar pra lua e pedia pra ele me mostrar - sempre que olho a lua sei que estou olhando pra ele.

Lembro também de ele trazes nossos chocolates favoritos. O meu era o Laka. Comi tanto na infância que acho que enjoei... lembro de ele me chamar de toquinho...

Ele sempre foi muito engraçado, gostava de contar piadas e até em enterros ele sempre deu um jeito de rir e nos fazer rir. Sempre diz que quando ele morrer ele não quer tristeza, quer o povo contando piadas e rindo. Ele sempre diz que rir é o melhor remédio... Acho que sou um pouco parecida com ele neste ponto. Por mais triste que eu esteja, gosto ainda de achar graça em algumas coisas.

Ele é bem o leonino típico: gosta de ser o centro das atenções, gosta de todo mundo olhando pra ele, falando com ele. Em casa ele nunca foi muito de falar. Gosta de ficar quieto no canto dele no sofá, com o cigarro dele e a TV ligada no esporte. Nem tente ligar pra ele se quiser bater papo. Ele encerra a conversa em menos de um minuto.



Desde que minha mãe morreu, em dezembro de 2002, as coisas ficaram bastante complicadas. No dia do enterro dela meu pai não quis voltar pra casa dele. Ficou na minha casa. Morou comigo durante um ano.



Durante todo o ano de 2003 eu tive que cuidar dele, não tive momentos de solidão e tristeza pela morte da minha mãe. Não dava, eu tinha que ser forte pra enfrentar o momento difícil que ele e meu irmão estavam passando. Sofri em silêncio durante um ano inteiro. Engoli meu choro, sufoquei minha tristeza e fiz de conta que estava bem. Engordei 25 quilos...

Meu pai estava diabético havia um ano quando minha mãe se foi. Ela cuidava da alimentação dele de forma primorosa. Não deixava ele comer nada que não pudesse, arrumava lanchinhos para ele comer durante o dia no serviço, fazia jantar todos os dias na mesma hora; enfim, levavam uma vida totalmente regrada. Dormiam cedo e acordavam muito cedo também. A vidinha deles era um exemplo de vida regrada... totalmente diferente da minha.

Durante este ano que meu pai esteve em casa eu tentei ser a minha mãe. Me esforçava ao máximo pra ele ter jantar todos os dias na mesma hora, vinha correndo da escola que eu dava aula pra fazer o jantar, fazia os lanchinhos pra ele levar no serviço todos os dias, comprava apenas as comidas que ele podia comer, levava ele a médicos regularmente, mantinha sua roupa sempre em ordem como ela fazia, levava ele pra passear regularmente em todos os lugares que eu ia, mantinha suas contas pagas, não atrasava seu plano de saúde por nada, levava ele a uma médica particular, comprava a insulina mais cara que tinha pra ele se cuidar... Mas eu não era a dona Conceição e nem deveria ter tentado ser...

Acontece que a tristeza que estava em meu coração não diminuía, não tinha jeito. Eu estava sufocada, cansada, triste e cheia de dívidas por conta de minha loja que fechei quando minha mãe morreu.



Não fosse o Álvaro eu teria enlouquecido, adoecido. Ele foi meu porto seguro, meu amigo, meu homem... ele foi e é tudo pra mim!




Minha mãe era o que ela sempre quis ser na minha vida: a minha melhor amiga. E olha que este foi um posto que ela conquistou, porque durante minha adolescência eu não queria nem pensar em ter minha mãe como minha melhor amiga.

Mas depois que eu casei foi assim. Ela era unha e carne comigo. Todos os lugares onde eu fosse tinha que levar minha mãe. Ainda bem que o Álvaro amava a sogra como se fosse mãe dele também. E ela era. Com certeza!




Minha mãe fazia tudo comigo e eu com ela. As compras da minha loja sempre eram compartilhadas com ela, as festas de amigos ela ia comigo, viagens, passava a tarde em casa papeando, fofocando, aconselhando.





Sabe o que começou tocar agora? Fascinação. Umas das músicas que aprendi a gostar com ela. Não pude deixar de chorar. Uma pausa para a saudade...


3 comentários:

  1. Gisele querida... sem palavras... aguardando a continuação e esperando que essas palavras estejam conseguindo equilibrar um pouco os sentimentos aí dentro de você... Mesmo longe, mesmo não sendo tão próxima, meu coração se aproxima do seu e espera te ver mais feliz! Beijos Linda...

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  2. Oi Gi!!!!
    Estou tão emocionada com o seu post, você não idéia do quanto!
    Minha mãe ainda está comido e eu nem consigo imaginar o quanto dói essa dor...

    Nem sei o que dizer na verdade.
    Apenas: Fique bem, da melhor maneira possível!!!

    Beijão!

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  3. As palavras dos amigos me fortalecem! Obrigada!

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